quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Semana Nacional de Trânsito e a grave doença social dos acidentes.

| Milton Corrêa da Costa | coronel da reserva da PM do Rio e estudioso em segurança de trânsito


Estamos em plena Semana Nacional de Trânsito, comemorada, em todo território nacional, entre 18 e 25 de setembro, cujo tema escolhido este ano, dentro da Década Mundial de Ações para a Segurança de Trânsito-2011/20, foi "JUNTOS PODEMOS SALVAR MILHÕES DE VIDAS'. Um bom momento para reflexão e nada a comemorar. 

A jornalista Ruth de Aquino, num artigo de sua autoria, publicado dias atrás na Revista Época, que analisava a violência e a barbárie do trânsito brasileiro, em poucas palavras disse tudo: "Temos um exército de homicidas e suicidas em potencial ao volante dos carros. Pilotam estimulados por álcool, deprimidos por drogas ou excitados pela sensação de onipotência". As palavras da ilustre jornalista podem ser retratadas em recentes números do seguro obrigatório DPVAT (Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores em Vias Terrestres) que, no primeiro semestre deste ano, pagou 107.403 indenizações por invalidez.Os dados se referem a acidentes ocorridos até três anos atrás no país. No total, incluindo mortos e feridos, as in-denizações, nos primeiros seis meses de 2011, chegaram a R$ 1,1 bilhão.

O crescimento da frota de motocicletas é tido por especialistas pela puxada das estatísticas de acidentes, em que as lesões que mais matam são fra-turas no crânio (falta do capacete de segurança), trauma de tórax ( falta do uso do cinto nos carros), bacia e ossos longos.O trânsito é a principal causa de morte de jovens no país, numa faixa etária de 15 a 24 anos. Mais de 70% são do sexo masculino. Segundo a ONU, o Brasil é o quinto país em acidentes de trânsito no mundo. 




O trânsito brasileiro mata 2,5 vezes mais que nos Estados Unidos e 3,7 vezes mais que na Europa. Em média, 100 pessoas por dia perdem a vida na barbárie do trânsito brasileiro, que ceifa a vida de 36 mil anualmente (quase a capacidade total do Estádio do Engenhão no Rio), sem falar nos que adquirem graves sequelas. A Espanha, cita em seu artigo a jornalista Ruth de Aquino, reduziu em 57% as mortes em estradas. "Não basta educar, é preciso vigiar e punir. As campanhas devem ser duras e realistas. Acidente de trânsito não é maldição divina e deve ser combatido como doença grave", diz Navarro Olivella, um espanhol estudioso do tema.

A semana de trânsito deve servir, portanto, para que nos mobilizemos por um trânsito mais humano. Os acidentes de trajeto são uma grave doença social e parecemos impotentes para conter tamanha tragédia, em que carros retorcidos, vítimas ensanguentadas, dor, sofrimento, desespero e famílias enlutadas são fatos rotineiros. Acresce-se o fato de que boa parte de nossas estradas e vias urbanas apresentam-se em estado precário no que tange à pavimentação e à sinalização. A cada dia, o carro vem se transformando numa arma mais mortífera e a impunidade dos crimes de trânsito é flagrante. Apesar do advento da Lei Seca, muitos motoristas continuam bebendo e dirigindo. Matando, morrendo e mutilando, e as leis acabam protegendo os homicidas do trânsito.

Fica evidenciado que o perfil do motorista brasileiro, em sua maioria, é de imprudência, des-respeito às leis de trânsito e acentuado grau de estresse e deseducação. Não há disciplina consciente no trânsito. É problema cultural e de carência de ri-gorosa punição. Precisamos frear o ímpeto dos imprudentes e assassinos em potencial do volante antes que sejamos a próxima vítima. Quem mata no trânsito por direção alcoolizada ou por excesso de velocidade comete homicídio doloso. É preciso incluir, urgentemente, no Código de Trânsito Brasileiro, no capíulo dos Crimes em Espécie, tal modalidade de delito, onde o dolo eventual fica plenamante evidenciado na assunção do risco do resultado danoso. Trânsito é meio de vida, não de morte e destruição humana. Com a palavra o Congresso Nacional. Juntos podemos salvar vidas. Só depende de nós.

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